* Aberrações cromossômicas estruturais
Aberrações cromossômicas estruturais referem-se a alterações na estrutura dos cromossomos, em vez de mudanças no número de cromossomos (como ocorre nas aneuploidias). Essas alterações podem ocorrer quando há quebras ou rearranjos no material genético dos cromossomos, resultando em rearranjos estruturais. As aberrações estruturais podem afetar a função dos genes, podendo causar doenças genéticas, anomalias no desenvolvimento ou até mesmo câncer.
Tipos de Aberrações Cromossômicas Estruturais
As aberrações cromossômicas estruturais podem ser classificadas em diferentes tipos, dependendo de como o cromossomo foi alterado. Os principais tipos incluem deletação, duplicação, inversão, translocação, e inserção.
1. Deleção (ou Deficiência)
A deleção ocorre quando uma parte do cromossomo é perdida ou removida. Isso pode afetar vários genes e geralmente resulta em sérios problemas de saúde, dependendo de qual parte do cromossomo foi perdida.
- Exemplo: Síndrome de Cri-du-chat (Síndrome do "grito do gato"): É causada por uma deleção no braço curto do cromossomo 5. Os indivíduos afetados apresentam atraso no desenvolvimento, deficiência intelectual, características faciais distintas e um choro agudo, que se assemelha ao miado de um gato (daí o nome da síndrome).
- Exemplo: Síndrome de Williams: Resulta de uma deleção no cromossomo 7, o que leva a problemas cardíacos, dificuldades de aprendizado e características faciais características, mas com um alto nível de sociabilidade.
2. Duplicação
A duplicação ocorre quando uma parte de um cromossomo é duplicada, resultando em múltiplas cópias de uma mesma região cromossômica. Isso pode levar a uma superabundância de material genético e afetar a expressão de certos genes.
- Exemplo: Síndrome de Duplication 15q: Neste caso, há duplicação de uma parte do cromossomo 15, levando a atraso no desenvolvimento, problemas de aprendizado e, em alguns casos, problemas comportamentais como autismo.
3. Inversão
A inversão ocorre quando uma parte de um cromossomo é invertida, ou seja, a sequência de genes é invertida. Isso pode resultar em problemas no cruzamento dos cromossomos durante a formação de gametas, e, em alguns casos, pode afetar a expressão de genes.
- Exemplo: A inversão pode ocorrer em qualquer cromossomo, mas em muitos casos, a pessoa com inversão pode ser assintomática. No entanto, em algumas situações, a inversão pode ser associada a distúrbios genéticos, dependendo de qual gene é afetado. Por exemplo, uma inversão no cromossomo 9 tem sido associada a maior propensão a abortos espontâneos e infertilidade.
4. Translocação
A translocação ocorre quando uma parte de um cromossomo é transferida para outro cromossomo. Existem dois tipos principais de translocações: translocação recíproca e translocação robertsoniana.
- Translocação recíproca: Envolve a troca de material genético entre dois cromossomos diferentes. Essa troca pode ser equilibrada (sem perda ou ganho de material genético) ou desequilibrada (com perda ou ganho de material genético).
- Exemplo: A translocação recíproca entre os cromossomos 9 e 22 é associada à leucemia mieloide crônica, uma forma de câncer no sangue. Essa translocação é conhecida como o "cromossomo Filadélfia".
- Translocação robertsoniana: Ocorre quando dois cromossomos acrocêntricos (cromossomos cujos centrômeros estão perto de uma das extremidades) se fundem em um único cromossomo. A translocação robertsoniana não altera o número total de cromossomos, mas pode afetar a segregação cromossômica durante a formação de gametas.
- Exemplo: A translocação robertsoniana entre os cromossomos 14 e 21 pode resultar em síndrome de Down. Neste caso, a translocação pode aumentar o risco de trissomia 21, embora o número total de cromossomos seja normal (46).
5. Inserção
A inserção ocorre quando uma parte de um cromossomo é inserida em um local diferente, seja dentro do mesmo cromossomo ou em outro cromossomo. Essa inserção pode alterar a sequência genética e afetar a expressão dos genes.
- Exemplo: A síndrome de inserção 11p é uma condição rara associada a inserção de material genético do cromossomo 11 em outro cromossomo. Ela pode causar atrasos no desenvolvimento e deficiência intelectual.
Causas das Aberrações Cromossômicas Estruturais
As aberrações cromossômicas estruturais podem ocorrer devido a vários fatores:
- Erros na replicação do DNA: Durante a divisão celular, especialmente durante a mitose ou a meiose, erros podem ocorrer, como quebras nos cromossomos, e as peças quebradas podem ser reagrupadas de maneira anormal.
- Exposição a agentes mutagênicos: Fatores ambientais, como radiação ionizante, substâncias químicas (como o benzeno) ou certos vírus podem causar quebras nos cromossomos, resultando em rearranjos estruturais.
- Erros durante a reparação do DNA: Quando o DNA é danificado, o processo de reparo pode falhar ou ser impreciso, resultando em alterações estruturais nos cromossomos.
- Herança genética: Algumas aberrações estruturais podem ser herdadas. Por exemplo, translocações recíprocas podem ser passadas de geração para geração, às vezes sem causar sintomas, mas com maior risco de gerar descendentes com problemas cromossômicos.
Consequências das Aberrações Cromossômicas Estruturais
As consequências clínicas de aberrações cromossômicas estruturais dependem do tipo de alteração e dos cromossomos afetados. Algumas das possíveis consequências incluem:
- Deficiência intelectual e atrasos no desenvolvimento: Alterações estruturais que afetam genes críticos podem causar dificuldades cognitivas e problemas de aprendizado, como é o caso de síndromes associadas a deleções.
- Problemas físicos: Aberrações cromossômicas estruturais podem resultar em defeitos congênitos, malformações cardíacas, distúrbios no crescimento e outros problemas fisiológicos.
- Infertilidade e abortos espontâneos: Translocações desequilibradas ou inversões podem afetar a fertilidade ou aumentar o risco de abortos espontâneos, uma vez que o material genético alterado pode ser mal distribuído nas células reprodutivas.
- Aumento do risco de câncer: Algumas translocações podem estar associadas a cânceres, como a leucemia mieloide crônica, onde o cromossomo Filadélfia é formado devido a uma translocação recíproca entre os cromossomos 9 e 22.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico das aberrações cromossômicas estruturais geralmente é feito por meio de testes genéticos, como:
- Cariograma: Análise cromossômica visual dos cromossomos de uma célula, usada para detectar anomalias estruturais como quebras, inversões, translocações e deleções.
- FISH (Hibridização Fluorescente in situ): Técnica molecular que permite visualizar partes específicas dos cromossomos e detectar alterações estruturais de forma mais precisa.
- MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification): Técnica para detectar deleções e duplicações em regiões cromossômicas específicas.
O tratamento das aberrações cromossômicas estruturais depende da condição clínica associada e pode envolver:
- Tratamento médico para sintomas específicos (como problemas cardíacos, dificuldades de aprendizado ou distúrbios do desenvolvimento).
- Aconselhamento genético: Pode ser recomendado para pais que desejam entender os riscos de transmitir alterações cromossômicas estruturais para os filhos.
- Apoio psicossocial: Algumas condições podem exigir apoio psicológico para lidar com desafios emocionais e sociais.
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